Avaliação na Educação Infantil - Maceió
*Ana Paula Santos de Oliveira
Ao
entrar no município, procurei inteirar-me da proposta pedagógica do mesmo para
fundamentar meu trabalho, e foi na formação continuada que adquiri um exemplar
do texto. A proposta foi elaborada em 1996 e reelaborada em 2004. O documento
tem o objetivo de fundamentar e sistematizar o trabalho pedagógico na educação
infantil em Maceió. As considerações sobre avaliação estão apoiadas no artigo
31º da LDB trazendo uma conotação de instrumento de reflexão complexo, ou seja,
ao avaliar verifica-se o avanço da aprendizagem, como ela acontece e a
metodologia abordada. É uma avaliação focada no processo de desenvolvimento
integral do sujeito, que considera as questões afetivas, sociais, adaptativa e
cognitiva, estas na intenção de compreender como o aluno concebe e constrói
suas hipóteses de leitura e de linguagem escrita (eu acrescentaria a linguagem
corporeo-espacial e ainda, ao acompanhamento do processo de construção do
conhecimento, o acompanhamento do processo de conhecimento de mundo e o
situar-se nele). Em seus anexos, a Proposta Pedagógica para o município traz
orientações para prática do docente com crianças de 0 a 6 anos e um formulário
que seria o relatório no qual o professor responde a cinco questões relacionadas
ao desenvolvimento do aluno e no final assina, junto com aluno, o diretor ou
coordenador e o pai ou responsável. Além deste relatório também é oferecida a
pauta avaliativa, que por ser considerada incompleta não fez parte dos anexos
mas que é entregue aos docentes junto com o relatório, como mais um recurso que
facilitará o preenchimento do mesmo ao fim do ano letivo. Atualmente a equipe
técnica da SEMED discute uma próxima reformulação do documento. A ideia é
contemplar itens que deixaram de ser abordados.
Particularmente
senti falta de algo que nos desse um panorama histórico da educação infantil em
Maceió, também percebi que o foco da proposta está mais centrado nas crianças
de 4 a 6 anos, principalmente nas orientações para prática do professor, nas
quais os bebês só são contemplados ao trabalhar o conteúdo arte. A parte que
traz as concepções teóricas também tem um olhar mais fundamentado para as
práticas com as crianças da pré-escola, de maneira que o trabalho em creches e
com bebês é pouco contemplado em todo documento. O relatório anual sugere
ainda, no final do documento, que a criança assine seu nome, o que para um bebê
é impossível, e para algumas crianças do pré também. Como nunca trabalhei em
creche não sentia tanta dificuldade em efetivar a proposta porém, ressalto que
a avaliação, que segundo o documento deve ser processual e contínua, é
realizada de maneira fragmentada e na maioria das vezes durante o decorrer do
ano letivo não se registra o desenvolvimento de outras competências além da
linguagem escrita, leitura e comportamento do aluno (no sentido de disciplina)
, às vezes por falta de instrumentos de apoio da administração escolar ou por
falta de orientação da equipe técnica. Atualmente tenho incentivado as docentes
darem sempre sentido ao trabalho realizado, desde o planejamento aos relatórios
contínuos. Temos uma avaliação que é realizada quando a criança chega à escola,
outra avaliação quatro meses mais tarde e a última próxima do fim do ano
letivo. Até então, tais avaliações só contemplavam as relações sócio-afetivas
no relatório final, as questões de leitura e linguagem escrita detinham a maior
parte da “preocupação”, então propus a gestão um novo olhar sobre esta
abordagem e um posicionamento nosso diante dos resultados, até então a
coordenação aguarda resposta. Por outro lado alguns pais ou responsáveis têm em
mente uma concepção distorcida de aprendizagem na educação infantil. Para
muitos, a criança só está aprendendo quando já consegue escrever e/ou ler
alguma palavrinha, e em nome dessa “crença” cobram da própria criança
competências de leitura e escrita, cobram do professor uma postura profissional e
atividades de escrita no caderno diariamente, só assim é compreendido que se trabalha
de verdade. Mas pode ser também que ao dividir o espaço com crianças do ensino
fundamental, a metodologia da educação infantil sofra influencias de práticas
voltadas para essa modalidade.
Eu
acredito que uma série de fatores pode estar contribuindo para essa
escolarização exarcebada da pré-escola, e para entender melhor será necessário
conhecer as práticas diárias dos espaços que funcionam só como creches, só como
pré-escolas, como creche e pré-escola e como pré-escola junto com ensino
fundamental.
Quando
trabalhei em um espaço voltado só para a pré-escola a preocupação e atenção com
as questões de socialização e oralidade eram bem frequentes no momento da
avaliação, é claro que as hipóteses de leitura e escrita eram avaliadas também,
mas não tinham tanta ênfase em detrimento das outras questões. O que acontece
nos espaços em que funcionam pré-escola e ensino fundamental, é que os docentes
do fundamental esperam receber alunos “prontos”, que leiam e compreendam, que
escrevam, conheçam todas as letras do alfabeto, as vogais, números etc. Quando
isso não ocorre, cria-se o conceito de que o professor anterior não é bom o
suficiente. Compreendo que um dos motivos que leva alguns docentes da educação
infantil se empenharem em desenvolver práticas baseadas em modelos do ensino
fundamental pode ser o de querer mostrar “competência” e garantir o próprio
espaço no ambiente de trabalho, mas entendo também que pode ser falta de
credibilidade e de compreensão da proposta pedagógica para pré-escola, Projeto
Político Pedagógico inacabado ou inexistente, Plano de ação ineficiente e falta
de dialogo com os pais ou responsáveis sobre o que vem a ser o trabalho
educacional com crianças de 0 a 6 anos. Acrescento ainda, que o funcionamento
em espaços adaptados acaba favorecendo o trabalho moldado nas práticas do
ensino fundamental, ainda mais se o espaço também for dividido com esta
modalidade.
Em
todo caso, percebe-se que além das questões que envolvem o acomodamento das
crianças em espaços adequados, também existem os interesses da família da
criança e do próprio professor, e que na maioria das vezes ambos os interesses
não estão em consonância com o compromisso ou consolidação dos objetivos da
educação infantil, como expus anteriormente, desconsiderando eixos essenciais
como o lúdico e as práticas para o favorecimento do desenvolvimento da
autonomia da criança. Fica claro para mim, que o trabalho com educação infantil
precisa ser conhecido, esclarecido e bem definido, para que a pré-escola em
Maceió, não se pareça, ou não se torne, um intensivo para entrada no ensino
fundamental.
* Graduada no Curso de Pedagogia da Faculdade
de Tecnologia e Ciências - FTC EAD/Salvador
*
E-mail: anapaullasos@hotmail.com